Porque o Caminho de Santiago de Compostela despertou em mim todas as emoções possíveis durante os trinta dias da minha peregrinação a Compostela.
A minha peregrinação no Caminho de Santiago foi a representação da minha história de vida. Fazendo um paralelo, eu nasci no dia em que abri os olhos para o desejo de realizar a peregrinação a Santiago de Compostela, cheguei a Saint-Jean-Pied-de-Port com 14 anos de idade e, a partir de então, cada dia no caminho era como um ano da minha vida, e depois de 30 dias, com 44 anos de idade, consegui alcançar o meu objetivo de chegar caminhando à Catedral de Santiago de Compostela.
O meu propósito inicial, quando decidi ir para o Caminho, foi fazer uma viagem turística, cultural, gastronômica, e simplesmente caminhar por montanhas, desbravar as trilha, cumprir o desafio proposto de percorrer uma trilha a pé de oitocentos quilômetros durante trinta dias ininterruptos até alcançar a meta para chegar a Santiago de Compostela.
Cheguei à Espanha com muita expectativa, cheio de coragem, sabia dos desafios que teria de enfrentar, as subidas e descidas íngremes, montanhas, vales e planícies; além de dormir em albergues e dividir o quarto com pessoas estranhas e desconhecidas.
E conhecendo as minhas limitações de peso, do joelho com ligamento rompido, das dores fortes nos tornozelos, confesso que tive medo que algo errado viesse a acontecer.
Desde o primeiro dia no Caminho observei coisas curiosas que aconteciam no meu dia a dia, como por exemplo, ao responder as perguntas dos peregrinos, comecei a perceber que estava fazendo uma retrospectiva da minha vida e dos meus antepassados.
Percebi também que ao contar essas histórias, era como se eu estivesse falando comigo mesmo, e assim, foi possível identificar fatos passados que haviam me influenciado, e pude refletir o que, quando, como eu sou, o porquê das minhas atitudes, das minhas escolhas; permitindo que eu entendesse quem eu realmente sou.
E em meio a todas essas diversidades, acasos, percalços e estresse no Caminho, chega a hora em que você tem que parar e respirar fundo, e é quando entendo que eu devo caminhar no meu tempo, de acordo com as minhas condições e limitações físicas, ter controle emocional, ânimo, e vontade de atingir a meta.
Com o tempo, caminhar tornou-se um hábito que fez bem para o físico e, muito mais, para a mente, e foi quando passei a perceber que o caminho não é como qualquer viagem turística.
Dia a dia passei a avaliar os comentários críticos, sem julgamento dos meus amigos peregrinos, a observar os sinais e a ver que peregrinar é muito mais do que uma atividade de caminhar; é uma viagem interna de autoconhecimento espiritual.
A partir de então, me coloquei à prova e percebi que sou desafiado a realizar, mesmo durante o caminho, as mudanças necessárias para eu conquistar novos desafios e me tornar uma pessoa diferente da que eu era quando o iniciei.
Fui desafiado a manifestar as minhas emoções, que por muito tempo ficaram bloqueadas, por vergonha e medo de me expor e receio de demonstrar as minhas fraquezas, não libertando os sentimentos de dentro do meu coração.
E, quando iniciei um processo de interiorização dos meus sentimentos, surgiram as faíscas, ou sinais, e passei a perceber, a sentir e viver intensamente o Caminho, despertando todo tipo de emoções: admiração, adoção, alívio, anseio, ansiedade, apreciação estética, calma, confusão, desejo sexual, dor empática, espanto, estranhamento, excitação, horror, inveja, interesse, medo, nojo, nostalgia, raiva, romance, satisfação, surpresa, tédio, tristeza.
A partir destas faíscas que surgiram no meu pensamento, tomei consciência das minhas atitudes e me coloquei a experimentar a soltar todas as minhas emoções.
Certamente, todas contribuíram para o meu desenvolvimento pessoal, e fizeram com que eu me tornasse mais confiante, alegre, propiciando sentir, em minha opinião, a consequência mais importante, o sentimento de respeito e amor ao próximo e, essencialmente, a tudo que dá vida às pessoas e que me permite continuar seguindo o meu caminho em direção ao futuro.
No Caminho tomei a consciência de que as minhas atitudes estavam prejudicando o meu desenvolvimento pessoal, então parti em busca de realizar uma transformação pessoal na minha vida.
Passei a experimentar e fazer de forma diferente coisas que eu nunca antes havia pensado que um dia eu teria a coragem de realizar. Quando, ainda no Caminho, iniciei o meu processo de mudança de comportamento, realizando uma metamorfose, passei a adquirir uma nova forma, tornando-me outra pessoa.
Durante esse processo de mudança surgiu um sentimento de paz e passei a viver intensamente as emoções, comecei a ficar cada vez mais leve, como se tirasse um peso das costas, passando a apreciar as pequenas coisas da vida, desde o nascer até o pôr do sol, a contemplar as flores, as plantações, as árvores, animais, tudo que dá vida; a despertar e valorizar as pessoas, o sorriso e tudo que me faz feliz.
Enfim, foi a partir da vivência de tudo isso e, principalmente, a convivência diária com os peregrinos, que passei a sentir a emoção mais desejada, que é o sentimento de amor; a partir de então, passei a me alimentar de confiança, empatia, conexão e respeito para com os outros peregrinos, que, por sua vez, fizeram aumentar a satisfação da convivência e da manifestação com mais intensidade das emoções, num ciclo virtuoso.
É por tudo isso que eu compartilho e convido você a reviver comigo o Caminho de Santiago de Compostela, “Um Caminho de Emoções”.
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